Saturday, February 23, 2008

Entrevista com SERJ TANKIAN!


Aqui está uma excelente entrevista, como não podia deixar de ser sendo de quem é, com Serj Tankian feita pela revista Rip It Up em Los Angeles:

Podemos começar com os antecedentes do álbum, onde o gravou e como aconteceu?

Eu gravei-o no meu estúdio e muitas das músicas foram escritas no piano ou na viola. Escrevo muita música para diferentes aplicações. Eu simplesmente escrevo música, sabe, é o meu filme. Tenho centenas e centenas de músicas não lançadas. Algumas são electrónicas. Algumas são clássicas – piano, cordas. Algumas são experimentais, algumas são góticas, algumas são rock, algumas são punk. Algumas eu uso para vídeo jogos, para trilha sonora de filmes, orquestração, composição. E essas são músicas que eu mesmo queria cantar. Eram músicas com as quais eu tinha uma certa afinidade emocional melodicamente.

Então, por que é que essas músicas eram mais pessoais?

É difícil de explicar – é simplesmente a vibe. Essas músicas são mais pessoais do que qualquer coisa que já fiz antes porque elas são mais “eu”. Tem mais conteúdo de mim enquanto artista, compositor e produtor do que qualquer outra coisa. Então, por essa razão, são mais pessoais. Eu acho que em termos de letra é mais intima também, porque estou a representar somente a mim mesmo. Não tenho uma banda na qual estou, sabe, parceiros que eu esteja representando por si, então é obviamente mais intima e pessoal.

Foi mais difícil de ser objectivo?

Eu acho que poderia ter sido mais difícil ser objectivo como produtor, não como artista ou compositor. Mas ganhei experiência através do tempo produzindo diferentes artistas para meu selo, Serjical Strike Records e eu co-produzi material que fiz com os System. Então foi uma experiência interessante. Eu faço muitas das diferentes personagens, porque fiz vários papéis, carreguei muitos chapéus neste disco. Inicialmente eu estava céptico sobre me produzir a mim mesmo porque eu não queria sabotar o projecto se o valor da minha produção obstruísse a arte em si. Mas no fim funcionou realmente bem porque fiz passo-a-passo, fiz tudo que queria fazer. Sabia exactamente que tipo de som estava procurando. Da entoação que estava procurando, a instrumentação, o arranjo, até mesmo a frequência. Eu sabia exactamente o que queria, então foi fácil finalizar sem outro produtor.


Por que você escolheu ‘Empty Walls’ para single?

A razão porque a escolhi como single é pela perfeita harmonia, musicalmente, do material que está no disco. Em termos de letra, eu não gosto muito de definir coisas. Gosto que as pessoas a interiorizem por elas próprias, como uma peça de arte, eu acho que é mais poderoso quando as pessoas fazem suas próprias histórias a partir de coisas que estão na música ou na arte. Uma das interpretações que eu daria é que os muros vazios são as coisas que nos impedem de nos conectarmos a outros seres e a outros eventos que acontecem ao nosso redor ou ao redor do mundo com os quais nós precisamos de ser empáticos.

Por exemplo?

Guerra, fome, genocídio, vítimas de crimes, vítimas de estupro, vítimas de desastres ecológicos, seja o que for.

Como se sente em relação a essa atitude anti-americana ao redor do mundo?

É mais um sentimento anti-imperialista do que anti-americano. Muitos países do oeste europeu perderam seus impérios ao longo do tempo e agora eu suponho que sejam os americanos. De um modo diferente, é claro, e não é algo que o povo americano esteja realmente consciente. É mais um “império subtil”, por assim dizer, porque é mais guiado por economia e recursos. Mais que ocupação de terras, o que é claro, ocorria e ocorre, no Iraque e em outras partes. Então eu acho que é mais isso. Não acho que seja qualquer outra coisa. Não acho que seja algo cultural.

Você tem uma banda?

Eu juntei uma banda, nós estamos ensaiando. Escolhi amigos que são bons músicos também. Escolhi um baixista e um baterista. Eu mesmo tocarei alguns instrumentos, dependendo da música e veremos como vai ficar.

Como é que os System of a Down se sentem em relação a isso?

Nós estamos em hiatus indefinido. Estamos todos fazendo as nossas próprias coisas. Somos todos amigos. Todos apoiam os projectos uns dos outros e damos sugestões.

Tocou o seu álbum para eles?

A banda não é uma corporação, são pessoas. Eu estive com alguns e toquei o álbum para eles e eles tocaram os seus materiais para mim.

Quão distante dos System está o seu álbum?

Bom, ainda é rock. Não tem tanta influência metal. Mas ainda é muito tocante e dinâmico. Mais piano e cordas que os System. Definitivamente um certo tom e som mesmo que haja guitarras e bateria em ambos. Definitivamente uma profunda diferença no som, sabe. Em termos de letras, como eu disse, é mais pessoal. Mais intimo, mais vulnerável até. Quer dizer, é um álbum de rock e estou a cantar nele, então há músicas que posso ver que traria algumas comparações. Mas por outro lado, o álbum vai noutra direcção.

Você acha que é mais ou menos político que System?

Os System nunca foram uma banda inteiramente política. Eu acho que os jornalistas costumavam gravitar para as nossas mensagens políticas mais do que para uma música como ‘Vicinity of Obscenity’, que é muito louca. Um certo percentual era político e é o mesmo com o meu material. Eu sempre fui assim. Nunca poderia escrever sobre um só tópico num disco.

Como é que o facto de ser armênio tem influenciado a sua música? Obviamente nós podemos ouvir influências do Orientais Médio. É uma pergunta difícil porque você não sabe como é não ser armênio, mas como é que você acha que influencia?

Eu creio que seja subtil, sabe? Há música subtil e certos climas que aparecem na música. Eu acho que há uma melancolia profunda neste disco.
Um amigo meu ouviu o disco e sentiu que havia um sentimento de melancolia muito profundo do universal para o pessoal com um sinal de esperança no final. Esse foi o sentimento dele em relação ao disco. E é parte da característica Armênia, uma profunda melancolia na nossa história nacional, mas com um sorriso no final.

Você acha que há uma falta de melancolia na cultura americana?

Quer dizer Prozac demais?

Quero dizer orgulho nacional demais sem nada por trás?

Eu não sei o que quer dizer.

Eu quero dizer, por você ter uma história rica, enquanto que aqui nos livros-texto das crianças dizem que a América É o melhor país do mundo.

Eles colocam isso em livros-texto? Não brinque! Uau! Eu não sabia disso. Acho que é ridículo porque isso não torna acessível o mundo em que vivemos. O mundo é um lugar tão pequeno hoje, globalmente e economicamente, por nossa comunicação e transporte ser tão mais simples. Mas isso é triste. Eu vejo aquele orgulho entre cidades no mundo, não em todo o lugar mas em muitos locais diferentes existem panelinhas e esse é um dos problemas da civilização.

Parte disso é religião?

Sim, parte é isso, e isto também nasceu na civilização. Todas as religiões modernas podem apenas carregar uma parte da verdade porque todas elas nasceram na cidade da civilização, elas nunca vêem nada fora dela [da cidade].

Considera-se uma pessoa religiosa, uma pessoa espiritual ou ambas?

Seja como for que você defina espiritualidade, eu tenderia a ser mais propenso a me definir dessa forma. Eu não faço parte de nenhuma religião organizada de nenhuma forma. E quando as pessoas me perguntam qual é a minha religião na verdade, eu digo: ‘é a mesma da árvore’. E eles dizem: ‘e qual é essa [religião]?’ e eu sempre digo: ‘bom, pergunta à árvore’. [Risos] Simples.

O que quer dizer?

Eu vivo sob as mesmas leis naturais que a árvore ali fora da nossa janela. Então qualquer relevância que haja do meu entendimento lógico da minha religião ou lado espiritual é um tanto secundário ao que a minha real espiritualidade é. Porque aquela árvore não tem conhecimento de sua existência mas tem a mesma espiritualidade das leis naturais que eu tenho. Estou mais interessado na interpretação mais indígena do que o lado espiritual significa. Vejo um paralelo entre os Americanos Nativos, os Aborígines, os Maori, os Kahunas havaianos, toda a cultura pré-civilização. Porque eles eram todos baseados na natureza, eles têm vários e determinados grupos que são muito semelhantes sem estarem em contacto uns com os outros. Eles são mais intuitivos.

Você tem um fascínio particular pela Nova Zelândia?

Na verdade sou um residente. Eu tenho lá uma casa.

Porquê Nova Zelândia?

Por muitas razões: a número um é que eles são ecologicamente progressistas, não muito desenvolvidos. É não-nuclear, com alimentos não modificados, a primeira ‘primeira ministra’ mulher da história. E pessoas agradáveis e realmente autênticas.

Quanto tempo passa lá?

Sempre que posso. Varia porque eu não tenho um trabalho das 9 às 5, então quando estou de férias posso ir por um longo tempo.

Quando é que os System of a Down se reunirão para outro álbum?

Não sei. Nós estamos a gostar de fazer as nossas próprias coisas nesse momento. Se nós quisermos reunir-nos e fazer algo mais à frente, seja um disco ou uma tour, nós iremos.

Sunday, February 17, 2008

Radiohead


Os Radiohead estão de volta e em grande, desde 2003 sem editar nada, com In Rainbows vem também uma estratégia de marketing bastante inovadora com a venda digital do álbum. Apesar de mudarem um pouco o estilo, a qualidade do álbum, essa, está como os Radiohead nos habituaram, excelente.
A propósito do curioso título, Thom Yorke referiu que este pretende sugerir uma viagem, uma transposição para um sítio onde não se está. O artwork, com manchas de tinta coloridas sobre uma imensidão negra, traz à memória explosões cósmicas. Terão os Radiohead e o seu colaborador artístico de longa data, Stanley Donwood, pretendido reflectir na arte do disco um novo início, um big bang pessoal? Faz algum sentido que assim seja. A banda desligou-se da EMI, editora que marcou toda a sua carreira, para empreender uma política de lançamentos autogeridos, com maior espontaneidade e, esperamos, regularidade. Por outro lado, In Rainbows consegue afastar-se da imagem de neurose urbana e introspecção depressiva que marcou quase todos os discos anteriores. Este é, no contexto da discografia da banda, um disco mais leve do que se esperaria, com uma voz mais melódica.

Mesmo faltando alguma força nalguns dos temas, In Rainbows comprova que os Radiohead são uma das bandas que mais interesse suscita sempre que emerge com um novo álbum. Sem se limitarem artisticamente, conseguem a rara proeza de atingir o público geral com o mesmo impacto que atingem os exigentes fãs. Com dez (mais seis) novos temas, o quinteto de Oxford volta ao nosso dia a dia. Os Radiohead continuarão a resistir à passagem do tempo, como todos os grandes músicos o conseguem, compondo canções inesquecíveis, uma após a outra.

Esperamos pela confirmação do tão aguardado concerto em Portugal para breve. Aqui deixo o link para uma petição a favor dos Radiohead ao vivo em Portugal. www.petitiononline.com/rad08pt

Monday, February 4, 2008

RAGE AGAINST THE MACHINE


Desde 1992 os Rage Against The Machine fazem muito barulho e abalam os alicerces do conservadorismo americano e conceitos da máquina capitalista, consolidando-se como uma das maiores e mais ferozes bandas dos anos 90.
Descendente de mexicanos, Zack, o vocalista, é filho de uma antropóloga e de um artista de um grupo político que fazia exposições com fotos e a história de agricultores mexicanos. Quando foi morar com sua mãe na cidade com maior número de brancos do Sul da Califórnia (Irvine), Zack viu o seu povo humilhado, servido aos brancos em serviços pesados. Conta Zack “Eu morava em Irvine, porém nunca me senti totalmente aceite como um desses putos brancos e ricos de subúrbio. Eu nunca tive problemas económicos como muitos dos meus irmãos e irmãs chicanos, mas eu sentia a tensão e a rejeição - e foi aí que eu comecei com o hip-hop”.
Juntou-se a Tom Morello, um nova yorkino que tinha uma mãe membro-fundadora de um grupo chamado “Parents for Rock & Rap” (Pais pelo Rock & Rap), organização anti-censura e um pai soldado membro do “Exército de Guerrilha Mau Mau”, que libertou o Quénia do poder britânico. O resultado foi óbvio, uma das bandas mais bem sucedidas que o mundo já viu.
Em 1992 os Rage Against the Machine fizeram apresentações por toda a Europa, abrindo os concertos dos Suicidal Tendencies. Terminada a temporada, lançaram o seu primeiro álbum, denominado “Rage Against the Machine”, em 10 de Novembro de 1992. O disco vendeu mais de 3 milhões de cópias e inclui, entre outras, Bullet In The Head, Bombtrack, Freedom, Wake Up e Killing In The Name, um claro protesto contra o militarismo norte-americano.
Devido às suas atitudes e letras, os Rage Against The Machine foram censurados e proibidos de realizar concertos em diversos estados norte-americanos - gerando um marketing que foi benéfico para a banda, motivando a continuar a luta contra a censura e outros temas. Em 1993, realizaram espectáculos em beneficiência da Anti-Nazi League e da Rock for Choice.
No Lollapalooza III, os Rage Against The Machine subiram mas não tocaram. Fizeram apenas um protesto anti-censura contra a PMRC (Parents Music Resource Center), no qual cada membro da banda ficou de pé, nu, durante cerca de 15 minutos, cada um com uma fita preta na boca e com as letras P (Tim), M (Zack), R (Brad), e C (Tom) escritas no peito. Eles disseram que “se não agissem contra a censura, não teríamos direito a ver mais bandas como os Rage!”
Em abril de 1996, foi lançado o esperado segundo disco - Evil Empire - que entrou directamente para o primeiro lugar do Top 200 da Billboard. O álbum critica , entre outros, o governo de Ronald Reagan e a relação entre os EUA e a URSS. Inclui faixas como Bulls On Parade, People of the Sun, Vietnow, Revolver, Roll Right e Tire Me (que ganhou o prémio de melhor performance de metal no Grammy Awards). Em Julho do mesmo ano a banda começou uma tour pelos EUA que durou até Outubro.
No início de 1998 a banda gravou No Shelter, parte da trilha sonora do filme Godzilla. Paralelamente, a banda ensaiava para o album The Battle of Los Angeles. Em Setembro, a parte instrumental para as 14 músicas já estava pronta, embora as letras estivessem incompletas. Em Janeiro de 1999 a banda organizou um concerto em beneficiência de Mumia Abu-Jamal, que apesar de alguns imprevistos, atraiu muita atenção. O mesmo concerto incluiu ainda as apresentações de Black Star, Bad Religion e Beastie Boys.
Em Genebra, Suíça, 12 de Abril do mesmo ano, Zack de la Rocha manifestou-se contra as Nações Unidas referindo Mumia Abu-Jamal e a pena de morte nos EUA. Os Rage Against The Machine tocaram depois no Tibetan Freedom Concert e no Woodstock 99, onde queimaram a bandeira americana no palco enquanto tocavam Killing In The Name.
Depois de muitas lutas e polémicas, os membros da banda resolveram seguir caminhos diferentes, Zack de la Rocha dedicou-se a uma carreira solo voltada para o hip-hop enquanto os seus antigos companheiros Tom Morello, Tim Commerford e Brad Wilk se uniram a Chris Cornell (ex-Soungarden) para formarem os Audioslave.
Passados os anos, o RATM reuniram-se para algumas aparições em 2007, continuando em 2008 o tão esperado regresso desta mítica banda. Portugal espera-os para um concerto, por certo memorável, no Oeiras Alive deste ano.

Friday, February 1, 2008

Hype!


Hype, um documentário de Doug Pray. E.U.A, 1996.

Uma viagem desde as origens do movimento grunge em meados da década de 1980 até ao seu quase desaparecimento cerca de dez anos depois.
O movimento teve origem em Seattle, no noroeste dos E.U.A., numa altura em que a cidade não fazia parte do itinerário das tourneés das grandes bandas, criando assim espaço para as pequenas bandas da cidade se mostrarem em concertos em bares e pequenas salas de espectáculos. Simultaneamente, começaram a surgir pequenas editoras e fanzines quase artesanais que acabariam por tornar-se nomes de culto (como a SUB-POP) e que iriam ajudar à divulgação do fenómeno grunge. Na passagem da década de 1980 para 1990 quando bandas como Alice in Chains, Nirvana, Pearl Jam e SoundGarden começaram a ganhar popularidade, o grunge deixou de ser um movimento local de bandas de garagem formadas entre amigos e ganhou proporções globais, contratos milionários e atenção constante dos media. Esta exposição excessiva e a pressão dos media tornou o movimento numa moda com a qual os seus mentores não se identificavam e com a qual não sabiam e não queriam lidar. Os casos de Andrew Wood (Mother Love Bone) , Kurt Cobain (Nirvana) e Layne Staley (Alice in Chains), entre outros, são tristes exemplos dessa inadaptação à popularidade, à pressão dos media e ao consumo excessivo de drogas.
Além de muitos depoimentos de personalidades mais ou menos conhecidos do movimento grunge e de muita música, o documentário exibe também a primeira apresentação ao vivo de Smells Like Teen Spirit o hino que lançou para a fama os Nirvana.