Tuesday, March 4, 2008

Puscifer


Durante anos a página oficial de Maynard James Keenan (maynardjameskeenan.com), mais conhecido como vocalista dos Tool e dos A Perfect Circle, apresentou a seguinte mensagem: “I have nothing to tell or sell you at this moment...but thanks for asking.” Recentemente, a mensagem desapareceu e a loja abriu. O viticultor mais enigmático do rock alternativo actual decidiu lançar o seu primeiro disco a solo sob o cognome de Puscifer. Contudo, este projecto está longe de ser um esforço solitário – Danny Lohner, Brian Lustmord, Tim Alexander ou Jonny Polonski são apenas alguns dos nomes que ajudaram na concretização deste novo desdobramento de Maynard.

“V” Is For Vagina poderá ser uma surpresa para os mais incautos conhecedores do trabalho anterior de Maynard. Roçando constantemente o limiar entre a seriedade e o sarcasmo, “V” Is For Vagina é um alimento cerebral de difícil digestão. Puscifer é, de forma mais ou menos improvável, aquilo que os Nine Inch Nails se transformariam caso Trent Reznor fosse substituído por Ron Jeremy e Stephen Colbert. O próprio artwork cartoonesco e berrante é prova de como existe algo de profundamente manhoso neste projecto. Esperem também um misto de blues, trip hop e rock industrial, com a voz de Maynard a contrair-se constantemente em sussurros e monocórdicas melodias. Esqueçam as linhas etéreas e redentoras de A Perfect Circle ou as catárticas explosões de Tool, em Puscifer a discrição em tom grave é a direcção seguida pela voz de Maynard.
Os dez temas de “V” Is For Vagina conseguem divergir substancialmente entre si sem, contudo, se atraiçoarem. A uni-los está a presença lírica de Maynard em inolvidáveis frases como “Show you the difference between my gun and my pistol” (“Dozo”), “Life will pound away where the light don’t shine, son. Take it like a man.” (“Momma Sed”) ou “Jesus is risen. It’s no surprise. Even he would murder his momma to ride to hell between those thighs. (“Rev. 22:20 (dry martini mix)”).
Mas não são muitos os temas que se destacam. “Queen B”, o single de apresentação, tem um groove intenso ao qual é difícil escapar; enquanto que “Dozo” consegue mesmo utilizar disparos de armas para complementar um ritmo dançável e algum caos sonoro. Ao lado destes dois temas está ainda “Trekka”, uma canção pujante de inspiração tribal. A pulsação de “Vagina Mine” consegue ser inebriante, escapando a alguma da indiferença criada por grande parte do álbum. “Momma Sed” é um tema directo onde uma guitarra acústica é acompanhada por uma bateria seca e simples, conseguindo aproximar-se do que Maynard fez com os A Perfect Circle.
Uma das falhas de “V” Is For Vagina encontra-se nas novas versões de temas editados anteriormente, ou seja, nas novas roupagens de “The Undertaker” e “Rev. 22:20 (dry martini mix)”. A primeira pôs de parte o andamento dançável, análogo ao da genial “Army Of Me” de Björk, para se perder em guitarras típicas dos Nine Inch Nails (ou não fosse esta faixa co-escrita por Danny Lohner). A nova mistura de “Rev. 22:20”, bastante mais mansa e inocente, peca por fazer desaparecer a intensa sensualidade que o original continha. Digamos que se passou de uma lap dance vertiginosa de um diabo feminino, para uma contemplação distante desse mesmo diabo.Existe também uma versão espanhola da Durante anos a página oficial de Maynard James Keenan (maynardjameskeenan.com), mais conhecido como vocalista dos Tool e dos (extintos?) A Perfect Circle, apresentou a seguinte mensagem: “I have nothing to tell or sell you at this moment...but thanks for asking.” Recentemente, a mensagem desapareceu e a loja abriu. O viticultor mais enigmático do rock alternativo actual decidiu lançar o seu primeiro disco a solo sob o cognome de Puscifer. Contudo, este projecto está longe de ser um esforço solitário – Danny Lohner, Brian Lustmord, Tim Alexander ou Jonny Polonski são apenas alguns dos nomes que ajudaram na concretização deste novo desdobramento de Maynard.
“V” Is For Vagina poderá ser uma surpresa para os mais incautos conhecedores do trabalho anterior de Maynard. Roçando constantemente o limiar entre a seriedade e o sarcasmo, “V” Is For Vagina é um alimento cerebral de difícil digestão. Puscifer é, de forma mais ou menos improvável, aquilo que os Nine Inch Nails se transformariam caso Trent Reznor fosse substituído por Ron Jeremy e Stephen Colbert. O próprio artwork cartoonesco e berrante é prova de como existe algo de profundamente manhoso neste projecto. Esperem também um misto de blues, trip hop e rock industrial, com a voz de Maynard a contrair-se constantemente em sussurros e monocórdicas melodias. Esqueçam as linhas etéreas e redentoras de A Perfect Circle ou as catárticas explosões de Tool, em Puscifer a discrição em tom grave é a direcção seguida pela voz de Maynard. Esperem também alguma frustração por assim ser.
Os dez temas de “V” Is For Vagina conseguem divergir substancialmente entre si sem, contudo, se atraiçoarem. A uni-los está a presença lírica de Maynard em inolvidáveis frases como “Show you the difference between my gun and my pistol” (“Dozo”), “Life will pound away where the light don’t shine, son. Take it like a man.” (“Momma Sed”) ou “Jesus is risen. It’s no surprise. Even he would murder his momma to ride to hell between those thighs. (“Rev. 22:20 (dry martini mix)”). Suspeito que Freud teria especial prazer em analisar o conteúdo deste álbum.
Mas não são muitos os temas que se destacam. “Queen B”, o single de apresentação, tem um groove intenso ao qual é difícil escapar; enquanto que “Dozo” consegue mesmo utilizar disparos de armas para complementar um ritmo dançável e algum caos sonoro. Ao lado destes dois temas está ainda “Trekka”, uma canção pujante de inspiração tribal. A pulsação de “Vagina Mine” consegue ser inebriante, escapando a alguma da indiferença criada por grande parte do álbum. “Momma Sed” é um tema directo onde uma guitarra acústica é acompanhada por uma bateria seca e simples, conseguindo aproximar-se do que Maynard fez com os A Perfect Circle.
Uma das falhas de “V” Is For Vagina encontra-se nas novas versões de temas editados anteriormente, ou seja, nas novas roupagens de “The Undertaker” e “Rev. 22:20 (dry martini mix)”. A primeira pôs de parte o andamento dançável, análogo ao da genial “Army Of Me” de Björk, para se perder em guitarras típicas dos Nine Inch Nails (ou não fosse esta faixa co-escrita por Danny Lohner). A nova mistura de “Rev. 22:20”, bastante mais mansa e inocente, peca por fazer desaparecer a intensa sensualidade que o original continha. Digamos que se passou de uma lap dance vertiginosa de um diabo feminino, para uma contemplação distante desse mesmo diabo. Lamenta-se a perda.
Sem compromissos demasiado sérios ou ideias megalomaníacas, Puscifer é um empreendimento pessoal, descontraído e bem-humorado de um dos mais talentosos e irreverentes nomes do rock contemporâneo. Este não é um projecto oportunista que vise fidelizar o público já atingido pelo passado de Maynard James Keenan (mesmo que tal aconteça). Este não é um álbum que procura sequer ser vitorioso. Aliás, aqui o “v” tem um significado bem diferente. À imagem do seu criador, este consegue ser um álbum com um low profile. Embora Maynard já tenha reservado o seu lugar na história do rock, “V” Is For Vagina arrisca-se a passar completamente despercebido.

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